segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Adolescência irreverente

Parte IV.
 

Quem mais costumava ir ao Teatro eram os simpatizantes do Corvo que tinham maior poder económico, mas nesse dia, mal terminou o encontro, muitos desapareceram irritados. Os jogadores e dirigentes do Arsenal chegaram ao Teatro roucos, foram aclamados e ovacionados que até parecia não haver outras cores ali dentro. O Arsenal ganhou no mesmo dia três taças: Simpatia, votada com os bilhetes no Teatro, Torneio e porque marcara mais um golo do que o Corvo durante a época, recebeu o respectivo troféu.

Foi uma noite plena de emoções, alegre e feliz.

Terminada a festa, descemos a pé em cantoria e não sentimos o caminho.

Ao chegar a casa por volta das dez horas da noite fui recebida com uma surpresa. A minha mãe estava atrás da porta e sem mais qualquer conversa deu-me duas vergastadas com uma cepa de videira dizendo: “Toma lá que é para saberes que não te autorizei a ires ao teatro. Ainda és muito nova para tomares decisões. Se tivesses vindo a casa podias levar a tua irmã.”

Sabendo que se tivesse ido para casa não voltaria a sair, apesar de combalida e ferida no meu orgulho, continuei feliz, porque a festa e a alegria foram superiores à mazela.

A minha irreverência deixou marca, tentei imitar alguns jovens da minha idade que gozavam de uma certa liberdade, mas o meu atrevimento foi mal sucedido e envergonhada com a marca nas pernas, não saí de casa durante uma semana. Foi a única vez que recordo ter apanhado com uma vergasta.       

No dia seguinte fiquei a saber que havia um bouquet para entregar ao vencedor, mas como não ganhara o Corvo, as flores apareceram estragadas atrás de um camião.  

E como há sempre um poeta em cada canto, também aqui houve alguém que improvisou umas quadras alusivas ao acontecimento e as fez distribuir nas casas dos dirigentes e aficionados do Clube adversário.

Diziam assim:

 
                                  E numa tristeza insana

                                  Na cabeça tantas dores,      

                                  Com beiças e muita gana

                                  Estragaram as flores.

 

                                  Tudo estava preparado

                                  Festa, sandes e canjinha

                                  Mas o ovo foi contado

                                  No traseiro da galinha.

 

                                 E sem esquecer os heróis do acontecimento:

 

                                  Com Almeida e grande Elias                           

                                  Um Fernando e um Garcês

                                  Não vale a pena arrelias

                                  Pois perdem p/ra outra vez.
 

                                                            

 
 
 
 
 

                                                   
  Teresa Valério

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