quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ADOLESCENCIA IRREVERENTE - PARTE II

Parte II
[continuação da narrativa de Teresa Valério]


Um dia, no princípio de Agosto, o árbitro chegou atrasado e o jogo começou bem mais tarde. Tudo decorria num clima de suspense sem que alguém imaginasse quem iria sair vencedor uma vez que o empate entre o Corvo e o Arsenal se mantinha já o jogo se aproximava do final. A minha irmã e eu protelamos a saída para rejubilar com a façanha dos azuis e branco, preferido de ambas, que apesar de não ser favorito estava a dar boa réplica de si, superando todas as expectativas. A cada minuto olhava o relógio, desejando que o tempo parasse até terminar a partida. Feliz porque o resultado não se alterou, mal o jogo terminou, fomos a correr até à Vila, entrando na igreja num estado de quase sufoco. Colocamo-nos uma de cada lado da mãe como de costume, imaginando que ficaria aliviada com a nossa chegada apesar de a novena estar quase a terminar. Ainda ofegantes, fomos surpreendidas, com um beliscão, uma no braço direito a outra no esquerdo, que aceitamos resignadas. Se fosse apenas isso já não era nada mau. Pior seria se no domingo seguinte ficássemos privadas de ir assistir ao jogo, nossa única distracção estival, pois já se falava na ida de uma equipa de Câmara de Lobos que sendo de um nível superior, daria um bom espectáculo. Estávamos por isso curiosas, mas ansiosas com o desenrolar dos acontecimentos. Esses jogos que nos deliciavam eram para eles um prémio pela classificação alcançada na temporada desportiva. Todos sabiam que, indo ao Norte jogar, tinham a garantia de um belo passeio, farra e jantarada.

Ao regressarmos na companhia de vizinhos, não vislumbrei qualquer animosidade e aproveitei para trocar olhares interrogatórios com a minha irmã, pois com os problemas que a minha mãe tinha na vista dificilmente descortinava os nossos trejeitos. O maior receio estava agora na chegada a casa. Felizmente a visita surpresa da minha avó materna que vivia nos Lameiros, um sítio distante, trouxe alegria à minha mãe e fez esquecer no momento a nossa prevaricação.

Sendo eu a mais velha teria de dar o exemplo, por isso, sempre atenta à minha irmã para não fazer asneiras, tentei que durante a semana as coisas corressem bem de modo a não sermos prejudicadas.

A partir desse dia, pareceu-nos ter havido uma mudança de página, pois continuamos a ir ao futebol, o senhor vigário deu folga nas novenas até ao fim do mês e passaram-se dois domingos sem mais ninguém falar do assunto, aquele episódio torturante que pairou no ar durante algum tempo, fora votado ao esquecimento.  

Andava orgulhosa do meu Arsenal que fazia acentuados progressos. Embora mais comedido nos últimos jogos, dentro de campo todo o grupo ia portando-se bem e já pouca diferença fazia do seu maior adversário, o Corvo, que até ali era considerado o clube mais forte porque ganhara mais vezes, tinha uma claque de elite, mais associados e adeptos mais endinheirados.

Sem comentários:

Enviar um comentário