sábado, 31 de agosto de 2013

Conversas velhas


Em conversas velhas de tempos antigos, Lília desencantou esta fotografia. O pai, bomboteiro, expunha, no convés do Noruega, os bordados que trazia na lancha: uns devidamente certificados, outros, não.

Ficámos à mesa, desfiando memórias: que nadava entre as lanchas, com os rapazes, que o pai lhe gritava da canoa que voltasse para casa, que aquilo não era para raparigas, que eram tempos duros, que tem saudades, que.

 Viviam ali, na babugem do mar, no Beco do Socorro. Viviam dos navios e do que se passava à volta deles. De vez em quando, no bolso do casaco do pai, havia um chocolate, um sabonete, uma novidade. Era o luxo do mundo que entrava em casa.
Ficámos à mesa. Nós. Um pouco perdidos no navio, no olhar de marítimo do pai da Lília que tentava lembrar-se do número da licença que estava gravado na barreta.


 



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